Um pedaço de fé em Little Índia



Sendo o continente asiático o berço das religiões do mundo, gostava de partilhar convosco alguns momentos que me marcaram. Será o Natal a estimular este desejo?

A verdade é que é imperdoável desdobrar a Ásia há mais de um mês e ainda não o ter feito, já que em cada instante há uma nova história que me encontra: um templo hindu; uma conversa com uma muçulmana simpática; uma escola budista com as portas abertas; uma menina indiana a receber uma pintura na mão enquanto canta; uma mesquita islâmica que desaprova os meus ombros descobertos.

No entanto, acredito que a fé é um tema muito delicado e merece tempo e dedicação.

Penso que foi no norte de Singapura, em Little Índia, que me despertou a vontade de escrever sobre as crenças espirituais das pessoas.

Entrei no Sri Veeramakaliamman Temple (dedicado à deusa hindu Kali) e assisti à mais intensa manifestação de fé que alguma vez pude imaginar.

Como em todos os templos, descalcei-me e juntei os meus às centenas de sapatos que se encontravam nas escadarias. Fechei os olhos para tentar andar, vagarosamente, por entre o incenso que queimava o oxigénio. E comecei a ver as pessoas a beijar o chão e a ajoelhar-se perante os deuses enfeitados com flores. Senti-me impressionada ao sentir a devoção com que recebiam a bênção do sacerdote que lhes pintava a testa com uma tinta branca (bindi). As pessoas esboçavam gestos, pronunciavam sons e comiam. Sim, havia lá comida para quem se quisesse sentar no chão a devorar o arroz abençoado. No final, deixavam o seu donativo, calçavam-se e iam para casa com a alma mais pura.

Vi famílias completas a ultimar o seu ato de fé. Qualquer pessoa é bem-vinda e ninguém pareceu se incomodar com a minha presença. Fui convidada a dar o meu donativo e prestar um contributo para preservar o templo.

Este momento acabou por se sobressair na passagem por Little Índia, um pequeno pedaço de terra onde se respira a cultura indiana.

Apimentei o meu paladar com o famoso garlic naan indiano (uma espécie de pão com queijo e especiarias) e encantei-me com as mulheres enroladas em seus saris e os turbantes vistosos dos homens mais tradicionais.

Caminhei por entre casinhas coloridas em estilo colonial, com calçadas estreitas e protegidas do sol por barraquinhas repletas de tecidos, ouro, especiarias, guirlandas de jasmim e incenso. Os vendedores entusiastas mostravam artefatos artesanais e mercadorias atraentes que ressaltavam fragrâncias tão fortes e cores tão vivas como a fé dos indianos.

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