Viva o rei da Tailândia!
Onde quer que vá, vejo uma nova adoração ao rei: os seus quadros que adornam muitas casas; pequenos altares em lojas e restaurantes e o seu aniversário comemorado como um feriado nacional e o dia do país.
Por
momentos recupero outras imagens do meu país: quando se idolatrava um chefe de
estado e se vivia reprimido, preso e sem ideias.
Aqui na Tailândia, também o
patriotismo é vivido intensamente. Quando a tarde já vai avançada ouço uma
canção nos holofotes. Percebo depois que é o hino nacional. Todas as pessoas
pararam, tal como estátuas, a ouvir. Encerrada a canção, tudo volta ao normal.
O motivo de tanto respeito?
O hino foi composto pelo prezado monarca. Mas reparem, para além de músico e
compositor, é velejador de competição e concebe os seus barcos, saxofonista,
pintor com obra exposta, inventor com patentes registadas e radioamador.
Este senhor, com os seus
respeitados 86 anos, é o homem dos sete ofícios. Mas o seu maior património são
os 30 bilhões de dólares que guarda em seu cuidado. Mais do que suficiente para
ajudar esta população que bem
precisa, pensei.
Por
outro lado, a pobreza extrema entra na minha vista todos os dias e a toda a
hora. As crianças cheias de
mazelas, ranho e fome por matar.
Pergunto,
então, às pessoas se gostam do seu rei. Se Bhumibol Adulyadej se preocupa com elas. Apesar da simpatia que
transparecesse nos tailandeses e tailandesas, da maioria não obtenho uma
resposta profunda e sincera. Sai apenas um "o rei é bom", em coro.
Destaco,
entre eles, um taxista que me olhou pelo retrovisor perante as minhas perguntas
indigentes. Teceu uma cara séria, franziu os olhos e retorquiu "ajuda
quatro pessoas". Será que ele não percebeu as minhas perguntas? Será que
não fala inglês? Ou será que entendeu perfeitamente e me respondeu com a maior
sinceridade do mundo, num pequeno grito de revolta? E aquelas quatro pessoas,
são o núcleo da famílias do rei
mais rico do mundo?
O rei da Tailândia é
intitulado Chefe de Estado, Chefe das Forças Armadas, Defensor da religião
budista e o defensor de todas as religiões. Ao mesmo tempo é o rei doente, como é apelidado em alguns
jornais. Apesar de estar numa cadeira de rodas e internado quatro anos num
hospital, não deixa de exercer a mais longa monarca reinante na história
do país. Longa e com uma influência exacerbada.
Neste contexto de protestos em prol da derrubada do governo, o
rei dispensou de cinco minutos para pedir aos seus cidadãos politicamente divididos para permanecer unidos para a
estabilidade e segurança do país.
E
enquanto os cidadãos vestidos de amarelo (a cor da monarquia) aplaudiam o rei envolvido
no seu habitual traje de ouro, os manifestantes de camisas vermelhas lutam pelo fim da corrupção.
Embora
não tenha poderes legais oficiais, Bhumibol é visto como a força unificadora único
neste país de 67 milhões de pessoas que vêm o seu rosto exposto em grandiosos
placards.
Mas aquilo que mais me surpreendeu,
por incrível que pareça, aconteceu numa ida ao cinema. Após os habituais
trailers, a tela fica totalmente escura, todas as pessoas se colocaram de pé e
começamos a ouvir uma música tailandesa. Diferente do hino nacional. Esta
chama-se antena real. E, claro, o pano de fundo era o rei. Uma sucessão de
imagens do rei com crianças, com velhinhos. Enfim, uma publicidade gratuita,
uma veneração cega ou um culto da pátria?
Querida Marta,
ResponderEliminara questão com o rei da Tailandia, é que ele não é mais rei. Ele é um funcionario de um regime republicano, no qual ele é o ator de um teatro cívico. E é assim, com todas as monarquias nas quais o rei não tem uma função real, como chefe de estado.
A função de um monarca,é estar separado das questões partidarias, do dominio das oligarquias e do capital, para sendo independente e neutro,possa agir como um condutor de projetos nacionais perenes, de longo prazo, enquanto as questões sazonais são desenvolvidas pela dinamica da legitima alternancia dos atores politicos (representantes dos variados segmentos da população).
A monarquia constitucional do Brasil,de 1824 a 1889, apresentava um estatuto constitucional que comtemplava uma monarquia de fato, com representatividade popular (claro, considerando as circunstancias da epoca) e vida politica partidaria (com igualmente as particularidades daquele tempo).
Quem derrubou a monarquia no Brasil ? Uma união de militares positivistas desejosos de um governo central e autoritario(achavam o rei um banana e a futura imperatriz cristã demais). e escravocratas desejosos de uma federação de "coroneis" (republica das oligarquias), que achavam o rei centralizador demais e a futura imperatriz humanista demais...
Na Tailandia, desde os anos 30, militares e oligarcas tambem acabaram com a monarquia. So esqueceram de despojar o rei.
Um grande abraço !
Diácono Marcelo.